< voltar

Impactos das enchentes na produção de grãos do Rio Grande do Sul

Baixar em PDF

Introdução

As enchentes que ocorreram entre abril e maio de 2024 no Rio Grande do Sul causaram estragos em diversas áreas da economia gaúcha, além da perda de vidas e de bens materiais. Na agropecuária, incialmente, havia incertezas sobre os impactos na safra 2023/2024, em especial sobre a produção de arroz, onde a participação do RS na sua produção é majoritária.

Na agricultura, os impactos têm sido acompanhados pelo Levantamento Sistemático da Produção Agricola – LSPA, do IBGE. Esta pesquisa estatística acompanha a conjuntura e elabora a previsão de safras do ano civil em função das informações obtidas junto a seus parceiros estaduais (EMATER/RS, IRGA), consulta a cooperativas, associações e integrantes representativos da cadeia produtiva.

Este documento visa a esclarecer o impacto deste evento climático na safra gaúcha de grãos em 2024, com as informações obtidas até agosto de 2024. Para isso, é necessário comparar a série histórica da produção agrícola dos últimos anos.

Acompanhamento da safra 2024 no Rio Grande do Sul

O Estado do Rio Grande do Sul é um dos maiores produtores de grãos do País, variando entre a segunda e a quinta colocação nos últimos anos, conforme pode ser observado no Gráfico 1. Na safra atual, até o momento, é o terceiro maior produtor nacional. Entre os grãos, destaca-se na produção de arroz, sendo responsável por cerca de 70,0% da produção nacional, também sendo relevante na lavoura de trigo (45,9%), de aveia (76,8%), de cevada (23,7%), de soja (12,6%) e de milho (3,8%), segundo o Levantamento Sistemático da Produção Agrícola – LSPA de julho de 2024. Além disso, o Estado ainda produz 47,0% da safra brasileira de uvas, 45,9% da produção de fumo e 10,5% da produção da batata-inglesa, além de outros produtos, como uma série de frutas de clima tipicamente temperado (pêssego, ameixa, nectarina, maçã etc.).

Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal 2013 a 2023 e Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, julho de 2024.

A produção de grãos gaúcha tem oscilado entre 37,7 milhões de toneladas e 26,2 milhões de toneladas, nos últimos anos (Gráfico 2). Nos mais recentes cinco anos, uma série de problemas climáticos têm afetado a produção agrícola gaúcha, limitando o potencial produtivo das lavouras e, consequentemente, acumulando prejuízos para os produtores, que se descapitalizaram e perderam a capacidade de investimento para as safras subsequentes. 2020, 2022 e 2023 foram anos típicos em que a produção gaúcha de grãos foi afetada por ocorrência de secas, principal fato responsável pela redução do potencial produtivo das lavouras. Já o excesso de chuvas e geadas têm afetado as lavouras de inverno. Embora em 2021 o Rio Grande do Sul tenha colhido uma safra de grãos recorde, em 2023 uma sequência de eventos climáticos, como a falta de chuvas, afetou as safras de verão (1ª safra) e as segundas safras. Já a safra de inverno sofreu com a falta de chuvas no início do plantio e o excesso delas na fase final de colheita, derrubando as estimativas iniciais de produção e reduzindo a qualidade do produto colhido, principalmente o trigo.

Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal 2013 a 2023 e Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, julho de 2024

A soja é a principal lavoura do Rio Grande do Sul. Contudo, sofreu com problemas climáticos nas últimas duas safras. Em 2024, apesar das perdas em decorrência do excesso de chuvas e inundações ocorridas na fase final de ciclo e colheita, expressa uma forte recuperação, em termos de volume produzido, figurando na segunda posição entre as Unidades de Federação com maior produção da oleaginosa no País. Em função de um El Nino mais característico, as lavouras de soja receberam bons volumes de chuvas durante o ciclo, o que potencializou sua produtividade na maior parte do território gaúcho, notadamente nas áreas que não sofreram com o excesso de chuvas e as enchentes de abril/maio último, que apenas afetaram as lavouras plantadas mais tardiamente e, que, portanto, não haviam sido colhidas até o evento, sendo elas estimadas em menos de 20% do total.

Segundo a EMATER/RS, mesmo sendo identificados focos de ferrugem-asiática em algumas regiões produtoras, que pressionaram o desempenho das lavouras, a elevada produtividade vem se confirmando à medida que estas foram chegando ao ponto de colheita, com o peso dos grãos sendo consideravelmente superior ao observado nos anos anteriores, o que reforça as estimativas iniciais de uma safra com resultados positivos.

Fonte: IBGE, Produção Agrícola Municipal 2013 a 2023 e Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, julho de 2024

No primeiro prognóstico da safra do Rio Grande do Sul, foi projetada uma produção de 40,1 milhões de toneladas. Porém, com as reavaliações ocorridas até abril, a estimativa da produção de grãos estava em 39,7 milhões de toneladas. De acordo com a EMATER-ASCAR/RS, o milho 1ª safra sofreu com a irregularidade climática, que afetou a produtividade nas diferentes regiões do Estado, onde a falta de umidade do solo não permitiu a aplicação de fertilizantes, perdendo o melhor momento fenológico de aporte de nutrientes. Por outro lado, as chuvas da primavera aumentaram a incidência de cigarrinha e doenças fúngicas.

O advento do excesso de chuvas e inundações, embora tenha afetado a agropecuária em boa parte do Estado, os prejuízos somente alcançaram as lavouras que ainda não haviam sido colhidas, o que representa apenas 10% a 20%, a depender da cultura. Os prejuízos foram maiores no caso da soja, já que havia uma área maior ainda a ser colhida. Para o arroz e o milho, os prejuízos foram menores, uma vez que as colheitas desses cereais se encontravam mais adiantadas.

Como pode ser observado no gráfico 4, a soja foi a cultura que apresentou maior redução, passando de uma estimativa de 21,7 milhões de toneladas em abril, para 18,3 milhões de toneladas em julho, uma queda de 3,4 milhões de toneladas (-15,7%). Apesar da redução, a safra de soja deve ser 43,8% superior a safra de 2023, que foi severamente acometida pela falta de chuvas e altas temperaturas.

Fonte: IBGE, Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, 1º prognóstico da safra 2024 a julho de 2024.

Considerações gerais

Os eventos climáticos ocorridos em abril/maio, face à gravidade constatada, afetando boa parte da infraestrutura de transporte no Estado, pode vir a impactar negativamente também a safra de inverno, que começou a ser plantada em junho do corrente ano, uma vez que tornou menor o acesso aos insumos necessários para o cultivo.

Além disso, em alguns municípios houve problemas com erosão e perdas de solo, de fertilidade e mesmo de áreas inteiras agricultáveis, havendo a necessidade da realização de investimentos na recuperação delas, justo em um momento em que muitos produtores se encontram descapitalizados e voltados a resolver problemas maiores decorrentes das enchentes, como conserto e reposição de veículos, equipamentos, mobiliários e até mesmo de suas residências. Dessa forma, visto que o plantio dessa safra se iniciou mais recentemente e depende da capacidade de investimento dos produtores e das condições climáticas nos próximos meses, somente seu acompanhamento no campo pode revelar suas peculiaridades, e possibilitar inferir o quanto foi prejudicada pelos eventos climáticos recentes.